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Caloira aos 26

A professora que decidiu ser contabilista

Caloira aos 26

A professora que decidiu ser contabilista

De que vale ser politicamente correto?

Eu acho que não vale de muito. Acho que é como agradar a gregos e a troianos. Dizemos sim aqui, sim ali e muitas vezes pensamos não ou nem pensamos nada. Foi por volta dos meus 20 que eu decidi que não fazia mais fretes. Nessa altura foi por ter que aturar palermices de namoraditos. Sempre que uma relação acabava e olhava para trás para refletir sobre ela pensava: não volto a fazer fretes, já tenho idade para recusar o que não quero, já chega disto. Deixei que a regra se estendesse a outras situações e tornei-me mais insuportável decidida. Obviamente, há aquelas secas de que não nos livramos com duas tretas. Ou porque gostamos da pessoa que nos pede o frete, ou porque sabemos que a médio prazo nos vai fazer bem tomar aquela atitude (um pouco como comer sopa: nem sempre apetece, mas tem que ser porque faz bem a x, y e z), ou porque nos esquecemos da promessa que fizemos sobre nunca mais fazer fretes.

 

Noto que aos 17 e 18 há muita vontade de fazer o bem, de agradar, de defender toda a gente, de entender mil e um pontos de vista, apesar de ainda não saberem ao certo qual é o seu, de ir contra os estereótipos criados por esta sociedade que muito gosta de rotular as pessoas... Enfim. Querem todos mudar o mundo - boa sorte com isso.

 

Na aula de ontem uma parte foi dedicada à ideia e à imagem que temos d' "O Contabilista". Alguns mais honestos começaram a dizer, meios envergonhados, que viam uma pessoa de meia idade, cabelo grisalho, rodeado de papéis, superorganizado e metódico, normalmente de fato... Eis que a professora perguntou: "Mas acham que é do género do George Clooney? Assim charmoso?", ao que eu respondi logo "Bem menos charmoso". Foi gargalhada geral, mas houve logo quem entrasse em defesa dos "menos-charmosos-que-o-George-Clooney": "Ó professora, não concordo nada. Ser contabilista não implica ser assim... ", "O meu irmão não se veste assim, nem o meu pai..." blá, blá, blá. Indignação geral, portanto. E isto aborrece-me, porque no fundo todos temos uma ideia pré-concebida. Todos temos uma imagem simples e mais ou menos caricata de tudo, e depois? Essa imagem não implica o desrespeito ou desprezo. Desde que tenhamos consciência dos limites das nossas imagens simples e da nossa ignorância...  É isso que tem piada, não é? Também me vão dizer que cumprem todos os 10 Mandamentos da Igreja, não? 'Tá bem então.